Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88

27 de junho de 2011

Carta para você II

"..Um futuro onde você seja passado. Seja finalmente o que você quis ser.."












Essa sou eu pensando, lembrando e mais que tudo isso, escrevendo para você. Eu tinha me prometido que não perderia meu tempo com você. Não gastaria minhas palavras por você. Mas eu sou mesmo mestre em quebrar as minhas promessas. Essa carta jamais lhe chegará, não colocarei no correio, não pedirei a ninguém que te entregue. Mas escrevê-la me traz alívio. Descarrego os sentimentos todos nessas letras. Os que ainda restam. Não choro mais por você, é importante que saiba. As lágrimas secaram, não querem mais cair. Elas se recusam. Que bom. Os sonhos de nós, sumiram. Meu subconsciente se nega também, a repetí-los. Os pensamentos viajam, mas não te buscam mais, desesperadamente. Não sinto mais AQUELE frio na barriga, ao ouvir seu nome, ao recordar seu rosto, as borboletas do estomago então.. entraram em extinção. Estou me curando de você. Estou finalmente me curando de você. E sabe, já consigo imaginar meu futuro sem notícias suas. Um domingo nostálgico onde você não aparecerá nem de longe, para me atormentar. Um futuro onde felicidades alcançadas não me façam ter vontade de compartilhar com você. Um futuro onde tristezas não me façam querer seu aconchego. Um futuro onde você seja o passado. Seja finalmente o que você quis ser. Você parece adivinhar, quando começo a partir, você me traz de volta. Pra perto de você, pra espreita, pra esquina, pro quase. Não me deixa partir. Mas eu não posso acreditar nas suas palavras, insinuações. Preciso seguir, e seguirei. Mala pronta, passagem na mão. Preciso de um novo rumo, um novo destino, um novo amor. Preciso de um novo remetente para as minhas cartas, um que de preferência responda. Algum que meça o mundo com as minhas formas. Algum que sinta meu cheiro pela estrada. Algum que me tome pelo braço, e que eu me perca em seu abraço. Por favor, continue caminhando por onde você escolheu, vamos acabar com isso, antes que isso acabe comigo. Sabe, vou te contar um segredo. O último. Ás vezes eu imagino como deve estar sendo sua vida agora, se é feliz, se está apaixonado, se nem lembra mais de mim. E como isso me dói. Aos domingos você deve estar namorando, abraçado, quem sabe assistindo filme, quem sabe na pracinha andando de mãos dadas. Beijando. Será que você já disse 'te amo'? E isso acabava comigo. Você era meu, você me pertenceu. Aí acordo, e procuro fazer algo que prenda a minha atenção, que interrompa minha imaginação de me torturar mais um pouco. Seja o que esteja fazendo, eu preciso arrancar isso de mim. E como disse, estou finalmente conseguindo. Os dias estão passando rápido, o ano está acabando, você está quase formando e não vou ser eu quem vai estar lá pra te aplaudir, pra sentir orgulho de você. Não é comigo que você vai compartilhar o fim da sua jornada, e início de outra. A mais difícil eu creio, a definitiva. As férias chegaram, e você não veio. Não veio mais como vinha. Barbudo, de blusa de frio, de manhazinha no meu portão me chamando. Me abraçando, dizendo que estava com saudade. E aquele clima estranho de quem não se via há meses, até a gente finalmente quebrar o gelo, e parecer que não nos desgrudamos há tempos. Não tem você pra ver o filme que eu tanto falei, e que te deixou deprimido. Não tem você aqui almoçando em casa, morto de vergonha. Não tem você comigo na micareta. Não tem você. Cadê você? Está seguindo a sua vida. Coisa que eu também deveria estar fazendo. Sabe, tive muitas fases durante esses anos. Tive fase de querer sumir com você, mandar raptarem você. Tive fase de morrer de saudade. Tive fase de chorar. Tive fase de nada. E finalmente alcancei a fase de deixar a saudade ir embora. Ela está indo aos poucos. Já posso respirar com alívio. Já posso ouvir as músicas, aquelas músicas, sem que nenhuma delas me doa. Estou me curando. Viver você foi muito bom. Foi uma das melhores partes da minha vida, eu admito, assumo e conto pra você. Mas o que está por vir agora me toma. Tanta coisa pela frente, tantos sorrisos para ver, tantas cores novas, cheiros, caminhos a percorrer. E eu vou. Eu fui. E para encerrar essa carta, que não mais afirmo ser a última: "se um dia ocê se lembrar, escreva uma carta pra mim, bote logo no correio com frases dizendo assim: faz tempo que não lhe vejo..". Você vai entender. Sinto saudades suas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário