Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88

29 de outubro de 2010

Quer substituir o insubstituível?


Foi o que ele disse em seu último dia conosco. Sua frase ressoa até hoje em minha mente claramente, palavra por palavra, cada fonema esfriando o sangue de minhas veias: "Ninguém é insubstituível!"; foi o que ele disse, se despedindo. Foi meu melhor professor na faculdade até agora, meu mestre, minha admiração maior. Essa frase se musicalizando por sua voz, me deixou em choque por segundos, não! Você é insubstituível, outras pessoas também são. Daquele dia em diante eu carreguei essa convicção sempre comigo. Ninguém é substituível, ninguém. Ele não é substituível, descartável, esquecido, apagável. Minha vida de uns dias pra cá mudou, e mudou sozinha, sem que eu forçasse minha mente a parar de pensar, meu coração a deixar de sentir, meus lábios a parar de sorrir ou tentar impedir a lágrima de emergir. Convicções mudaram. Ele tinha razão, ninguém é insubstituível pra mim. Não que haja outro alguém igual a ele, ou igual a você. Mas as pessoas passam sempre. É a lei, que não se revoga, não há decreto que impeça sua execução. Passam, arrastam nossos sentimentos atrás delas, tentando segurá-las e impedi-las de partir. Mas elas vão partir. Não há o que fazer. Amores: vão partir. Amigos: também. Mas eu insisto em guardar o lugar, guardar o gosto, do insubstituível, que não voltará. Olho meu quarto em volta de mim, na parede um mural vazio. Não há mais fotos, pensamentos, não há mais fatos, não há nada, nada absoluto, nada insubstituível. Esse vazio não é triste, esse vazio é alegria. É vazio livre, é vazio completo. Abro minha caixa de recordações e deixo-as voarem por aí.. Jogo fora as fotos, rasgo as cartas, bendirei os santos, exorcizarei os demônios, limparei a casa. O novo insubstituível que virá, encontrará tudo limpo, livro em branco, nada de fotos, nem fatos, sem sonhos, recordações, caixa vazia, que dirá vestígios de você. O insubstituível que virá terá o prazer de viver tudo aquilo que não foi vivido ainda, afinal, não houve ninguém antes dele e não haverá ninguém depois de você. Vem ser insubstituível pra mim pelo tempo que der.

3 comentários:

  1. Thamires disse:
    Há, eu sei qm é o professor.. só nao sei do amor, so nao conheci os amigos, só não cheguei a ver as fotos no mural. Hááá o tempo, encarregado de levar tudo. eeeei, você é insubstituivel! sem duvidas: o melhor texto. parabéns.

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  2. May, vc tá escrevendo muito beeem! Todas as vezes me surpreendo! =)

    Hum... acredito que as pessoas são sim insubstituíveis, mas os sentimentos são substituíveis.... o insubstituível sempre vai existir nas suas lembranças pq fez parte da sua vida e de vc... mas o negócio é: limpar o terreno pro novo insubstituível mesmo...

    Seu post me lembrou Carlinhos (hehe):

    Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

    "Por muito tempo achei que a ausência é falta.
    E lastimava, ignorante, a falta.
    Hoje não a lastimo.
    Não há falta na ausência.
    A ausência é um estar em mim.
    E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
    que rio e danço e invento exclamações alegres,
    porque a ausência, essa ausência assimilada,
    ninguém a rouba mais de mim."

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  3. Um dos seus melhores , sem dúvida. A grande autora dos memorias que guardo em mim, eis você aqui.. com o sublime toque que ecoa em cada uma de suas palavras.; Parabéns;

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