Era tudo isso o que eu precisava. Pra me sentir viva. Uma sexta feira embriagante, passos trôpegos, amigos de longa data, ou de poucos minutos. Uma madrugada banhada pelo milagre da natureza que mais admiro, o de maior sacralidade, a chuva. Suas gotas caem sem parar, me fazendo pensar no ciclo da vida. Assim como a chuva, cai sem parar, a vida também vai. Cada gota fria que toca em minha pele, é como se fosse um novo dia, amanhecendo, me sacudindo. Assim como a chuva, sempre segue seu ciclo, a vida também. Independente de qualquer fato, a vida deságua, molha, arrepia. Vejo na chuva a maior manifestação de Deus, assim como ele derrama seu milagre sobre a cidade, derrama também bençãos, espalha felicidade. Eu precisava de tudo aquilo, da música, das pessoas, daquela noite. Precisava banhar a alma. Precisava da conversa, da compreensão que encontrei. Vi seu número. Vou ligar. Não, não vou ligar. Tá chamando.. não devia ter ligado, vou desligar, ainda dá tempo.. alô?! Tarde demais. Não precisava falar com você, não precisava ouvir sua voz. Não liguei pra dizer que senti saudade algum dia, porque não senti. O que eu pretendia?! Nem eu mesma sei. Essa é a maior incognita que carrego comigo. Liguei pra dizer que.. nem eu mesma sei o que quero dizer. Mas o que mais me intriga é sua forma de sempre dizer, o que eu preciso ouvir, o que quero ouvir. Ainda que eu não diga nada, e nem saiba ao menos porque diabos liguei pra você. Eu pr
ecisava dessa ligação. Eu precisei de você por alguns instantes, precisei do sentido que você me traz. A vida acontecendo, os encontros, as conversas, as afinidades, os atritos. A chuva caindo, molhando, passando. "Uma mulher, em busca de sua palavra". Uma palavra que traga significado à si mesma. Que palavra seria essa? Qual palavra seria minha? Talvez seja cedo para descobrir, a vida ainda amanhecendo. Penso agora em mim, e toda minha vida até agora. Mudança, poderia ser a palavra. Mudar de cidade, mudar de casa, de escola, de antigas convicções, de gosto musical, de prioridades.. Mas me vem então a tona, uma mudança que deveria ter ocorrido à muito, mas que só agora está acontecendo. Mudança não pode ser minha palavra. Definitivamente. Penso em astral; Relativo aos astros; sideral. Estrelas. Céu. Que palavra significante seria, mas não poderia ser a minha palavra. As estrelas sempre brilham, constantemente, independente de qualquer coisa. Minha estrela nem sempre se apresenta da maneira mais viscosa que poderia. Desisto de encontrar a minha palavra. O meu sentido. O meu significado de existência. Talvez seja cedo demais pra isso. Só o que sei é que preciso de tudo isso. Preciso da vida, dos momentos, das palavras acertadas, do sagrado, preciso de Deus, das estrelas iluminando o caminho, da chuva renovando cada vez que cai, dos amigos, dos passos, do esquecimento, da saudade. Preciso viver. Há tanto a descobrir, a encontrar, testemunhar, a respirar. Mas eu não tenho pressa. Assim como as nuvens se movimentam em seu tempo, para que a chuva caia em momento oportuno, a vida traz a tona o que preciso descobrir, o que preciso sentir, aos poucos. Assim como o ciclo da chuva, o ciclo da vida.. Algum momento a chuva chega; Assim minha palavra também virá, quando for a hora.
(Inspirado no filme: Comer, Rezar e Amar. E nas músicas: Além do que se vê e Último Romance - Los Hermanos.)
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