Parece inacreditável! Eu estar assim, em um dia que parece como os outros, em que faço a mesma coisa que faço nos outros, em que eu não espero nada de especial como em todos os outros. Uma ideia me sobrevém. Me lembro daquele aplicativo do google, onde vejo imagens por satélite de várias cidades. E me lembro da minha predileta, Divinópolis. Como seu nome me soa doce. Doce e irreal. Passeio pelas ruas da cidade, tento chegar a rua onde morava. Consigo. Olho os ladrilhos no chão. Meus pés tocando são tão reais, parece que foi ontem, hoje à tarde. Vejo o muro do prédio, as pedras parecem tão vivas pela imagem, minhas mãos sentem sua textura. Vejo o portão. Me lembro do barulho que ele fazia, do quanto as escadas até o meu andar eram escuras. Minha porta tinha duas trancas. Na minha época tinha uma academia logo abaixo, hoje parece que uma loja de tecidos. O que não descaracteriza em nada minha rua. Tão absolutamente MINHA. Desco pela avenida principal, me recordo de cada uma dessas lojas, dessas cores, apesar da estaticidade da imagem, ouço o trânsito, as pessoas, os pássaros. Ouço meus passos. Minha respiração aqui, no coração da cidade. Desço algumas ruas... BINGO! Acertei em cheio onde era a casa de uma amiga. A casa-loja da família dela. Me lembro da cor. Está exatamente igual. E como me dói saber, que se eu descer 3 ruas, não vou mais encontrá-la, ou quanto tempo tem que não nos falamos. Ou o fato de volta e meia meu coração e pensamentos se voltarem pra essa cidade, pra essas pessoas, e achar que elas não se lembram nem a metade de mim. Decido ir na faculdade. Apenas na porta. Não posso entrar. Sinto o cheiro das aulas. Das conversas na van, ida e volta pelo caminho. Me lembro da biblioteca imensa, com escadas, e infindáveis livros. Da cantina. Dos gêmeos que estão nos últimos períodos. Da Ana da minha van. Do evangélico safado. Da doida da Elaine. Da estressada da Valquíria. O tarado do Delmir. A professora Sorriso. A amiga especial que me chama de chechelenta, mas que eu guardo um amor imenso por ela. Pelo gatinho da sala, que nunca iria me dar bola mesmo. Do mala inteiramente tatuado. Da sorridente de Carmópolis. Da professora que idolatra a Maria Helena Diniz. Pessoas, sentimentos, coisas tão guardadas, amor tão doado. Quanta coisa aqui ficou. Decido encerrar meu passeio, não posso mais desenterrar as coisas já estão lá embaixo. Uma última ida no meu prédio. Uma última recordação das festas, encrencas, beijo no portão, dos apertos das provas, um último cheiro nos livros, no meu quarto, uma última olhada na vista maravilhosa da minha janela. Puxo a cortina. Fecho a página. Não posso destrancar tudo assim.
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