Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88

13 de agosto de 2011

O Dia 'D'


Um dia anterior, eles combinaram por telefone. Ela ouvia atentamente sua voz ainda doce dizendo: amanhã estarei aí. E ela iria esperar. O dia amanheceu nublado, com uns pequenos chuviscos que insistiam em cair. E ela acordou ansiosa. Ansiosa pra poder vê-lo logo, pra poder tocá-lo, coisa que imaginara que demoraria muito a se repetir, se é que um dia viesse a se repetir. Boa peça pregada pelo destino, ela agradecia com seu coração, pequeno e que agora estava apertado a sua espera. Enfim, ele chegou. Tocou a campainha, esperou junto ao portão, aquele que muitas vezes havia sido aberto por ele, da mesma forma como o coração dela se encontrava sempre aberto à ele. E ela abriu a porta, e olhou-o a sua espera. De jeans, camisa branca, da forma mais simples e incrível possível. Seu olhar entrou em festa ao vislumbrá-lo. Seu coração então nem se fala, se alegrou novamente. Suas mãos transpiraram, por quase não acreditar que estava vendo-o novamente. Caminhou timidamente até ele, o amor às vezes a deixava estupefada! Chamou pra entrar em sua casa, e esperava que entrasse novamente em seu coração, o que ela até aquele momento achava coisa possível. Conversas descontraídas, mãos ainda tímidas, sem beijos até aquele momento, tudo parecia tão retrógrado, parecia tão passado, parecia tudo ter voltado. O almoço juntos como antes, ela degustava a comida, enquanto apreciava seu sabor, mantinha seus olhos fixos à ele, não podia acreditar em tamanha felicidade, o ter ali novamente. Seu coração a cada momento agradecia a Deus, por ter trago ele mais uma vez. A tarde passou, os beijos e abraços e silêncios de antes, de sempre. Ela se sentia plena, a felicidade mal cabia em seu ser. Ele quis cochilar em seu colo, e ela assentiu. Enquanto ele dormia, ela acariciava seus cabelos, seus dedos maciamente passavam por cada mecha, sentia aquela textura, o perfume era o mesmo. Ela passava suavemente suas mãos por seu peito, que inflava com sua respiração lenta. Ela encostava seu rosto no dele, e sentia pertinho sua respiração, sentia seu sopro de vida, e só o que seu coração fazia era agradecer. Era o melhor momento da sua vida, seu grande amor ali, em seus braços de forma desprotegida, querendo colo, sono, sonho. E ela clamou: Deus, eterniza esse momento. Deus, não deixe que acabe. Deus, Deus, Deus.. e as lágrimas emergiram de seus olhos, no momento em que começou tocar, no som vindo dos fundos da casa, uma música que traduzia exatamente as pulsações do seu coração: " o amor deixa marcas que não dá pra apagar.. cabeça doida, coração na mão, desejo pegando fogo.. uma coisa fique certa amor, a porta vai estar sempre aberta amor, meu olhar vai dar uma festa amor, na hora que você chegar..". Deus ouvia suas suplicas, e soprava através da sua alma: é a última vez. Ela teve essa certeza, como nunca antes. Estava passando e iria terminar. Ele acordou do seu sono, e ela respirava amor, exalava felicidade; sabia que acabaria, mas estava plena. Eles assistiram filme juntos. Filme esse, que ela teve que assistir sozinha depois, porque não houve a menor concentração, pois ela não conseguia se concentrar em mais nada que não fosse nele, na sua presença tão querida, tão desejada, no calor transmitido pelo cobertor que dividiam. Aquele dia foi um dia frio. Foram durmir, separados. Assim como deveria ser; e ela acordou na madrugada. Seu coração a despertou, era a última vez, tinha de vê-lo denovo, antes do amanhecer. E foi para seu quarto, de madrugada, nas pontas dos pés, com o coração na mão de medo, com o estômago totalmente retraído, e com muita adrenalina correndo por suas veias. E o acordou. Frio, medo, e muita vontade se misturavam em sua corrente sanguínea, mas o que dominava sua alma apenas, era a vontade de fazer amor. A última vez, já que assim deveria ser. E fizeram. Com todo o medo que lhes cercava, todo o perigo e receio, se amaram na madrugada. Se amaram a última vez. Então amanheceu, e a hora dele partir se aproximava, cada minuto voou como se segundo fosse. Estava chegando ao fim. Foram para a rodoviária e enquanto ele não desgrudava seus olhos da largada de F1 que passava na tv do bar, ela não desgrudava seus olhos dele. Deus havia sussurrado pra ela, vai acabar. E estava bem no fim. Não havia o que fazer, não tinha maneira de se prender. Seu ônibus chegou, e ele finalmente partiu, a última vez. Deu um selinho nela. E ela desejou que fosse com Deus. Ele entrou no ônibus e se foi. Ela virou-se e voltou pra sua casa, com seu peito dilacerado. Seu amor tinha ido embora para sempre, ainda que ela viria a constatar isso dias depois. Mas foi feliz, na parte que lhe coube. E agradeceu feliz durante toda a semana seguinte, que durmiu abraçada com o travesseiro que ele havia durmido, sentindo seu cheiro, e relembrando sua última noite, a noite de amor.

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