Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88

22 de março de 2011

Monstros não tem coração!

Joaquina. Joaquina vivia numa estrela, e nela só existiam dois tipos de pessoas: os meninos e os monstros. Desde que nascera, já conhecia das verdades de sua estrela: meninos amam, monstros não! Crescera com essa (meia) verdade. Por obra dos deuses um monstro foi colocado no seu caminho. Esse pareceu lhe diferente, Joaquina parecia sentir seu coração. O tempo foi passando, e a menina nutriu em si amor pelo monstro. Muito amor. E ela fazia o que lhe fosse alcançável para estar perto e ver seu monstro feliz. Desafiava a sorte, se arriscava, sonhava, traçava planos pras eras seguintes. O monstro as vezes, dizia sentir o mesmo pela menina, e logo o amor não era assim tão inatingível. Enfrentariam a todos, mudariam de estrela, se preciso fosse. Ele pediu que ela o prometesse, que nunca o deixaria sozinho, e assim ela o fez. O monstro então pediu a Joaquina que lhe desse o que de mais precioso possuia, o que todas as meninas da estrela tinham: seu coração dourado. Dentro dele estavam todas as qualidades e os sentimentos quentes e vermelhos. Ele ficava ao lado do coração de bronze, o que continha os sentimentos frios e cinzas que possuiam as meninas da estrela. O coração de ouro era dado ao seu par eterno, pois pulsariam juntos os dois corações, e a menina não perderia seus sentimentos vermelhos, compartilharia - os com mais intensidade com o seu par. Joaquina relutou. Como poderia dar-lhe o que de mais precioso possuía? Como viveria sem seu coração de ouro, se o monstro lhe deixasse? Não, não poderia! Não agora. Não sem garantias. O coração dourado ainda pulsava dentro dela. Pulsava muito, pulsava forte. Joaquina então deicidiu dá-lo ao monstro. Ela o amava, ela tinha conseguido o amar intensamente, da forma que ele era, em seus contornos, suas esquisitices e suas diferenças dos meninos da estrela, ou do que ela realmente gostaria que ele fosse. Amava-o com todo seu coração dourado. Poderia então entregar-lhe. Porque não entregar o que de mais precioso tinha, para o monstro que mais amava? Joaquina esqueceu dos ensinamentos que recebera, desde quando o cometa a deixara nesta estrela. Então, uma noite fria, porém iluminada Joaquina decidiu entregar seu coração, o de ouro, o único, o eterno. Doeu! E como doeu retirar de si, tudo o que continha dentro dele. Mas ela o entregou. O monstro permaneceu com Joaquina por um tempo. Cada dia que a menina da estrela acordava, via seu monstro mais distante. Mas foi chegado o dia, em que Joaquina acordou, e o monstro não estava em lugar nenhum! Meu Deus! O que teria acontecido? Joaquina correu por toda a dimensão da estrela, e seu monstro não estava em canto nenhum. Um menino apenas disse a ela, que o monstro tinha ido embora pra sempre, tinha mudado de galáxia! Joaquina não podia acreditar! Mas ele levou meu coração dourado! E o menino com ar de consolo: Monstros não amam Joaquina! Monstros não tem coração. Oras! Isso ela ouvia desde que nascera. Como pôde o monstro parecer amá-la? Como pôde o monstro levar o que ela tinha de mais precioso? Só o que restou a Joaquina foi seu coração de bronze. O que continha os sentimentos frios e cinzas. Joaquina se tornou cinza. A menina da estrela se tornou fria.

Um comentário:

  1. Nossa... ao terminar de ler esse texto, acho que meu coração de ouro foi roubado e restou-me apenas o de bronze...

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