Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88

18 de novembro de 2010

OVERdose

Me aconteceu ontem. Estava indo pra faculdade, lendo o livro que tristemente está chegando ao final. Me deparo com a frase: "teria de olhar nos olhos de seu menino e em intervalos de outros novos tempos decorar-lhe as feições, movida pelo desejo simples de nunca mais esquecê-lo". E imediatamente essa frase me remete a uma cena vivida há algum tempo. Eu estava em sua casa, sentados, um olhando para o outro de frente, em silêncio. Você me perguntou, com sua voz que estremecia minha alma: - O que foi Má? Por que você está me olhando desse jeito? Eu não sabia como definir. Tudo o que eu sabia naquele momento era meu desejo de que ele não acabasse, que ele perdurasse no tempo, com toda a ternura e paz que eu sentia. Sabia que chegaria ao final. Mas olhei-o com todo o desejo que possuia minha alma, quis apreender aquele instante em minhas retinas, quis manter seu cheiro sempre vivo, sua presença, sua paz. Quis olhar o "menino" que eu tinha, que me pertencia, que não me escaparia. E o meu desejo assim como o do autor do livro, era nunca mais esquecê-lo. Me deu saudade denovo. Dei trégua a mim mesma, me permiti por alguns minutos relembrar sua voz. Permiti ao meu olfato recordar seu cheiro doce. Permiti ao meu coração bater mais acelerado ao desenhar o contorno do seu rosto, da sua boca, dos seus cabelos. Me permiti minutos de saudade. Tive overdose de você. Quando eu finalmente lhe respondi, que estava olhando, para poder me lembrar, no mais tardar daquele dia. E o menino então finalizou: - Você se lembrará. Como gostava sempre de dizer, os verbos no futuro do presente. Esse dia esteve guardado, até ontem. Quando ele veio a tona, conforme havia pensado. O menino partiu. Encontrou outro parque, foi brincar em outros ares. O menino se transformou em outro, que não conheço. O Meu menino não existe mais. Mas guardo cada recordação possível, cada palavra, respiro, e despedida. Muitas lembranças, cada detalhe. OVER-DOSE. Foi dose final. Fim do livro.


(O livro a que me refiro no texto é: Cartas entre amigos. Do Fábio de Melo e Gabriel Chalita. Recomendo!)

3 comentários:

  1. Thamires disse:
    'Permiti ao meu olfato recordar seu cheiro doce. Permiti ao meu coração bater mais acelerado ao desenhar o contorno do seu rosto, da sua boca, dos seus cabelos.' as lembraças permanecem. muito bom o texto. é de se formar lagrimas, realmente.

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