Alguma coisa assim sobre mim. Se puder, lembre-se de mim. Recorde tudo quanto for possível. Minha voz, meu jeito enjoado, minhas manias, minha indecisão. Se puder, escreva sobre mim. Qualquer frase que possa representar o que significo, ainda que as palavras não alcancem a dimensão dos toques. Se puder, me ligue; ainda que passem anos, apenas pra checar se meu timbre continua com a mesma vibração. Se puder, me abrace; assim verificando se o calor da minha alma permaneceu estável durante o tempo em que não me viu. Se puder, pense em mim; e deixe que sua alma venha de encontro à minha, ainda que antes do tempo prometido. Se puder, venha me ver; e veja como o tempo muda nossas feições, mas pode preservar intactos nossos sentimentos. Lembre, escreva, ligue, abrace, pense, veja, alguma coisa ou qualquer coisa assim sobre mim. Me ame se der. Venha, se puder.
Art. 5°, IV: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. CF/88
26 de novembro de 2010
18 de novembro de 2010
OVERdose
Me aconteceu ontem. Estava indo pra faculdade, lendo o livro que tristemente está chegando ao final. Me deparo com a frase: "teria de olhar nos olhos de seu menino e em intervalos de outros novos tempos decorar-lhe as feições, movida pelo desejo simples de nunca mais esquecê-lo". E imediatamente essa frase me remete a uma cena vivida há algum tempo. Eu estava em sua casa, sentados, um olhando para o outro de frente, em silêncio. Você me perguntou, com sua voz que estremecia minha alma: - O que foi Má? Por que você está me olhando desse jeito? Eu não sabia como definir. Tudo o que eu sabia naquele momento era meu desejo de que ele não acabasse, que ele perdurasse no tempo, com toda a ternura e paz que eu sentia. Sabia que chegaria ao final. Mas olhei-o com todo o desejo que possuia minha alma, quis apreender aquele instante em minhas retinas, quis manter seu cheiro sempre vivo, sua presença, sua paz. Quis olhar o "menino" que eu tinha, que me pertencia, que não me escaparia. E o meu desejo assim como o do autor do livro, era nunca mais esquecê-lo. Me deu saudade denovo. Dei trégua a mim mesma, me permiti por alguns minutos relembrar sua voz. Permiti ao meu olfato recordar seu cheiro doce. Permiti ao meu coração bater mais acelerado ao desenhar o contorno do seu rosto, da sua boca, dos seus cabelos. Me permiti minutos de saudade. Tive overdose de você. Quando eu finalmente lhe respondi, que estava olhando, para poder me lembrar, no mais tardar daquele dia. E o menino então finalizou: - Você se lembrará. Como gostava sempre de dizer, os verbos no futuro do presente. Esse dia esteve guardado, até ontem. Quando ele veio a tona, conforme havia pensado. O menino partiu. Encontrou outro parque, foi brincar em outros ares. O menino se transformou em outro, que não conheço. O Meu menino não existe mais. Mas guardo cada recordação possível, cada palavra, respiro, e despedida. Muitas lembranças, cada detalhe. OVER-DOSE. Foi dose final. Fim do livro.

(O livro a que me refiro no texto é: Cartas entre amigos. Do Fábio de Melo e Gabriel Chalita. Recomendo!)
8 de novembro de 2010
Chove, chuva!
Era tudo isso o que eu precisava. Pra me sentir viva. Uma sexta feira embriagante, passos trôpegos, amigos de longa data, ou de poucos minutos. Uma madrugada banhada pelo milagre da natureza que mais admiro, o de maior sacralidade, a chuva. Suas gotas caem sem parar, me fazendo pensar no ciclo da vida. Assim como a chuva, cai sem parar, a vida também vai. Cada gota fria que toca em minha pele, é como se fosse um novo dia, amanhecendo, me sacudindo. Assim como a chuva, sempre segue seu ciclo, a vida também. Independente de qualquer fato, a vida deságua, molha, arrepia. Vejo na chuva a maior manifestação de Deus, assim como ele derrama seu milagre sobre a cidade, derrama também bençãos, espalha felicidade. Eu precisava de tudo aquilo, da música, das pessoas, daquela noite. Precisava banhar a alma. Precisava da conversa, da compreensão que encontrei. Vi seu número. Vou ligar. Não, não vou ligar. Tá chamando.. não devia ter ligado, vou desligar, ainda dá tempo.. alô?! Tarde demais. Não precisava falar com você, não precisava ouvir sua voz. Não liguei pra dizer que senti saudade algum dia, porque não senti. O que eu pretendia?! Nem eu mesma sei. Essa é a maior incognita que carrego comigo. Liguei pra dizer que.. nem eu mesma sei o que quero dizer. Mas o que mais me intriga é sua forma de sempre dizer, o que eu preciso ouvir, o que quero ouvir. Ainda que eu não diga nada, e nem saiba ao menos porque diabos liguei pra você. Eu pr
ecisava dessa ligação. Eu precisei de você por alguns instantes, precisei do sentido que você me traz. A vida acontecendo, os encontros, as conversas, as afinidades, os atritos. A chuva caindo, molhando, passando. "Uma mulher, em busca de sua palavra". Uma palavra que traga significado à si mesma. Que palavra seria essa? Qual palavra seria minha? Talvez seja cedo para descobrir, a vida ainda amanhecendo. Penso agora em mim, e toda minha vida até agora. Mudança, poderia ser a palavra. Mudar de cidade, mudar de casa, de escola, de antigas convicções, de gosto musical, de prioridades.. Mas me vem então a tona, uma mudança que deveria ter ocorrido à muito, mas que só agora está acontecendo. Mudança não pode ser minha palavra. Definitivamente. Penso em astral; Relativo aos astros; sideral. Estrelas. Céu. Que palavra significante seria, mas não poderia ser a minha palavra. As estrelas sempre brilham, constantemente, independente de qualquer coisa. Minha estrela nem sempre se apresenta da maneira mais viscosa que poderia. Desisto de encontrar a minha palavra. O meu sentido. O meu significado de existência. Talvez seja cedo demais pra isso. Só o que sei é que preciso de tudo isso. Preciso da vida, dos momentos, das palavras acertadas, do sagrado, preciso de Deus, das estrelas iluminando o caminho, da chuva renovando cada vez que cai, dos amigos, dos passos, do esquecimento, da saudade. Preciso viver. Há tanto a descobrir, a encontrar, testemunhar, a respirar. Mas eu não tenho pressa. Assim como as nuvens se movimentam em seu tempo, para que a chuva caia em momento oportuno, a vida traz a tona o que preciso descobrir, o que preciso sentir, aos poucos. Assim como o ciclo da chuva, o ciclo da vida.. Algum momento a chuva chega; Assim minha palavra também virá, quando for a hora.
(Inspirado no filme: Comer, Rezar e Amar. E nas músicas: Além do que se vê e Último Romance - Los Hermanos.)
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